Barão Geraldo é o nome do distrito onde vivemos. Hoje são cerca de 80 mil habitantes e mais uns 20 mil flutuantes, pois é região universitária. Mas o orgulho é que somos centenas de ARTISTAS! Em 1998 éramos menos que 39 mil habitantes, mas só na Vila Santa Isabel, nosso pequeno bairro, havia 4 espaços culturais, de teatro e música. Todos ainda de pé! Lume, Útero de Vênus, Barracão Teatro e Cia Sarau. Os artistas de Barão - organizados em grupos, equipes, companhias, coletivos, espaços compartilhados, sonhos compartilhados – não trabalham necessariamente juntos, não criam suas obras a partir das mesmas bases de conhecimento, não são parecidos, mas se sabem e se reconhecem como parte de uma rede de apoio mútuo, um jeito intrínseco de solidarizar-se. Naquele ano de 1998, os que já estavam em Barão - em sua maioria atores, músicos e arte-educadores - realizaram o primeiro TEM CENA NA VILA; depois vieram o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto.
O TEM CENA deu forma àquilo que já se nos apontava como um reduto de resistência: uma escolha de descentralização, fora da capital; espaços pequenos, geridos pelos próprios grupos; a aposta em pesquisas de linguagens próprias; a atitude de pesquisar, atuar, produzir, conversar, enquanto mobilizávamos formas de cobrar dos governantes a parcela deles no fomento à arte. Não havia leis de incentivo; contávamos com o apoio da UNICAMP e de pequenos empresários locais. Na edição de 1999 tivemos apoio do SESC Campinas e se chamou SESC em Cena na Vila. Tínhamos, com o TEM CENA, o desejo de compartilhar arte com a comunidade do nosso distrito (com histórico agrário) e da região da cidade de Campinas, então, além das apresentações em espaços fechados, apresentávamos nas ruas e praças e criávamos ações conjuntas, como o Tem Limpeza na Vila – um mutirão de limpeza do bairro acompanhado de música e palhaçaria.
Cuidávamos uns dos outros e dos espaços, nos revezávamos na segurança dos carros estacionados nas ruas enquanto aconteciam as peças, fazíamos uma arte que se propunha a transformar o ambiente ao redor, que mobilizasse o comércio local. Convidávamos as pessoas da comunidade a entrarem em nossos pequenos teatros, mas muitos eram tímidos ou achavam que não tinham roupas adequadas para isso. Campinas passou a olhar de um jeito diferente para Barão Geraldo e abriu-se uma perspectiva para que estudantes da UNICAMP optassem por fazer a vida ali, ao lado de tanta inquietação criativa. Os eventos continuados foram criando, nos outros, a necessidade de que existíssemos e nossos espaços ficaram e ficam (o verbo em um presente nostálgico de quarentena) cheios, coloridos, diversos, quentes, cheirosos de odores de toda a gente. Atuamos e atuaremos, às vezes, estrategicamente invisíveis, às vezes deliberadamente BEM À VISTA!, mesmo que tentem tirar nossas vozes, danças, articulações, desejos, pernas, braços... mesmo que bradem que somos insignificantes, desnecessários, vadios. Seguiremos potentes e em/na CENA!
TEM CENA NA VILA teve em suas cinco edições: Útero de Vênus, Barracão Teatro, Companhia Sarau, Lume Teatro, Espaço Semente, Boa Companhia, Seres de Luz Teatro, Adelvane Néia, Gira Sonhos, Pérola Regina, Grupo do Santo, Matula Teatro, Duo Bem Temperado, Trem de Corda, Teatro da Mafa, Quatro Peba na Pimenta, Saia Rodada, Paulo Freire, Coral da Boca pra Fora, Ivan Vilela, Zé Gramani, Ceumar, Ramon Montanhaur, Via Rosse (Itália), Teatret Om (Dinamarca), Pé de Vento, Fred Hunzicker, Fábio Caniatto, Marcílio Menezes, Roberto Bach, Duo Eribêra, João das Neves, além de estudantes e apoiadores por trás da cena, de cujos nomes não temos registro em arquivo.
No período de 20 a 28 de agosto de 2023, no momento de abertura e luz após o pesadelo pandêmico e político, os grupos se reunem e resolvem editar novamente o Tem Cena na Vila como comemoração à arte, à cena, ao aconchego de amigos e para comemorar o presencial novamente em nossas vidas. Para verificar os participantes e a programação acesse a página do evento: https://temcenanavila.wixsite.com/temcena-navila.
Acessar o arquivo do LUME sobre o TEM CENA NA VILA para mais documentos históricos