Núcleo interdisciplinar de pesquisas teatrais da Unicamp

E assim nasceu…

... Trabalhar o ator é, sobretudo e antes de mais nada, preparar seu corpo não para que ele diga, mas para que ele permita dizer. A arte de ator é uma viagem para dentro de nós mesmos, um reatar contato com recantos secretos, esquecidos, com a memória. A verdadeira técnica da arte de ator é aquela que consegue esculpir o corpo e as ações físicas no tempo e no espaço, acordando memórias, dinamizando energias potenciais e humanas, tanto para o ator quanto para o espectador.

Luís Otávio Burnier

Vídeo Institucional Oficial do LUME

Vídeo Institucional LUME

O Lume nasceu na UNICAMP, no ano de 1985, como um centro de pesquisa em atuação, idealizado por Luís Otávio Burnier, que convidou o ator Carlos Roberto Simioni para iniciarem os trabalhos de investigação. No ano de 1993 veio a se tornar o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais – Lume. Nesse tempo tem se dedicado ao aprofundamento da arte da atuação e promove de forma efetiva a pesquisa cênica sendo, hoje, reconhecido internacionalmente por seu trabalho teatral, além de atuar no território híbrido de interdisciplinaridade artística teatro-dança e teatro-performance e de realizar pesquisas na arte da palhaçaria, da mímesis corpórea, dos treinamentos e da presença cênica. Esse reconhecimento vem tanto pela singularidade de suas técnicas e produção artística, pelos livros e revistas publicados, como também por sua postura ética frente ao ofício teatral. Por meio de seus espetáculos, cursos, intercâmbios culturais e da reflexão conceitual sobre o corpo-em-arte, celebra o teatro como poética do encontro e o espaço ideal de potencialização de outros modos de existência, compondo e tecendo a arte cênica presencial como território privilegiado de pesquisa na área das artes cênicas, mais especificamente na área de atuação.

Além das pesquisas entre os membros do grupo, os intercâmbios com outros artistas são uma prática constante do LUME. Esses intercâmbios favorecem o contato com outros modos de fazer e pensar a arte, com a imensa riqueza das diferenças e a compreensão mais clara e precisa do caminho que o grupo vem trilhando desde seu início. Ao longo de sua trajetória, o LUME desenvolveu relações especiais de trabalho com importantes mestres da cena artística mundial: Iben Nagel Rasmussen (Odin Teatret, Dinamarca), Natsu Nakajima e Anzu Furukawa (Japão), Nani e Leris Colombaioni (Itália), Sue Morrison (Canadá), Tadashi Endo (Japão), Kai Bredholt (Odin Teatret, Dinamarca) e Norberto Presta (Argentina).

LUME - vídeo comemorativo de 25 Anos

O Lume tem como missão a produção, divulgação e aplicação de conhecimentos interdisciplinares e transculturais no campo das artes da cena, disseminando-os e afirmando-os em seus aspectos práticos e conceituais, além de disponibilizá-los de forma democrática. Possui como princípios e valores: 1) ter as artes da cena como princípio ético, político, social e como potencializador da cidadania; 2) ter como foco a dinamização de potências expressivas singulares e coletivas; 3) incentivar e acolher a pluralidade das diversas expressões das artes da cena; 4) ter compromisso com a qualidade e fruição de suas produções artísticas e pedagógicas; 5) defender e dar visibilidade à pesquisa em artes da cena no âmbito da universidade; 6) estimular políticas públicas para as artes da cena em nível municipal, estadual e federal. Como visão de futuro e como centro de excelência em artes presenciais e referência regional, nacional e internacional em sua área de atuação, pretende fazer da arte cênica potência estratégica de sensibilização e transformação da sociedade.

Para ter algum sucesso nesses princípios éticos - que beiram a utopia! - o Lume se lança a realizar as artes presenciais em toda sua complexidade de camadas: transforma o ato prático de estar em cena, de treinar para a cena, de processar a cena - em seus pilares estéticos, poéticos e políticos - em camada conceitual, de pensamento crítico, de reflexão teórica, de potência corporal prática e o lança na formação na pós-graduação orientando trabalhos, germinando teses, instigando processos práticos, incutindo pensamento crítico no terreno das artes cênicas e do mundo a partir do teatro. Ao mesmo tempo volta-se para a sala de trabalho e, ali, como um ninho investigativo, germina novos processos artísticos a partir de projetos de pesquisa, tanto processos próprios do Lume como de ajuda a outras e outros em seus processos de criação: nessa outra camada o Lume funciona tanto como processador de trabalhos artísticos próprios, como “parteiro” de outros processos de grupos e artistas. Essas são as camadas de suas investigações cênicas. E concomitante a tudo isso, saindo da sala-ninho e da casa pós-graduação-UNICAMP, o Lume se lança ao mundo - e outras vezes organiza eventos para trazer o mundo para sua casa - para mostrar os resultados desses processos, dessas germinações, conversar, debater, assessorar, apresentar. NA camada-mundo do LUME! Portanto, o que suporta e faz o alicerce de sustentação da missão, dos princípios e da visão de futuro do Lume dentro dessas camadas complexas são suas AÇÕES. São essas ações práticas e conceituais que possibilitam esta utopia: território que se sustenta nos atos poéticos, nas experiências de encontros reais, nos debates e trocas poéticas que geram afetos críticos e encontros que ampliam a ação positiva no mundo.

E essas AÇÕES causam e causaram impacto. Tanto por sua quantidade, quanto, e principalmente, por sua qualidade reconhecida no Brasil e no exterior. Essas ações são o próprio critério de desempenho do Lume, pois são atividades – todas elas - que correm atrás da miragem de nossa missão, princípios e nossa visão (utópica!) de futuro em que a arte transforma o mundo. E por o LUME não pensa as artes na pós-graduação, mas a pós-graduação como arte. O LUME não pensa pesquisa em artes, mas sim a pesquisa COMO arte. O LUME não cogita a extensão como apresentação de produtos artísticos, mas, sim, como arte em pesquisa prática. O LUME não pensa em ensinar nem mesmo em formar, mas em criar junto. E para isso se lança em experiência, e como pesquisadores caminham, muitas vezes, por tentativa e erro. Mais tentativa e erro. Muita tentativa e muito erro! E na esteira dessas tentativas e erros é justamente onde emerge o mais importante: o processo. A pesquisa, a extensão e a formação na pós-graduação no Lume são sempre PROCESSOS. Numa bela contradição, os objetivos finalísticos são processuais por natureza. Foi com essas ideias e com essas posturas, que o LUME processa todas as ações e camadas de sua história.

A Sede do LUME

Entrada da Sede do LUME

O Lume sobreviveu os primeiros nove anos sem sede própria, emprestando um salão de igreja para o desenvolvimento de suas práticas e tendo as casas dos primeiros membros fundadores – Luís Otávio Burnier, Denise Garcia e Carlos Simioni – como nichos para seus arquivos.

A precária estrutura física e financeira não foi impedimento para a criação das raízes técnicas, teóricas e éticas do LUME. Esta estrutura inicial determinou tod um modo defszer que perdura até os dias de hoje.

O tempo das investigações – de 1985 a 1993 – correu segundo o pulso próprio de uma pesquisa em profundidade e foi quando se consolidou um treinamento de ator primoroso em três linhas de pesquisa: Dança Pessoal, Mímesis Corpórea e Clown e o Sentido Cômico do Corpo, todas elas experimentadas em espetáculos como “Kelbilim, o cão da divindade”, “Valef Ormos”, “Taucoauaa Panhé Mondo Pé” e “Wolzen, um giro desordenado em torno de si mesmo”.

A conquista de uma sede – uma casa alugada na Vila Santa Isabel, pela UNICAMP – em maio de 1994 - onde o Lume está até os dias de hoje- permitiu a criação de um espaço com intensas atividades culturais em Barão Geraldo, Distrito de Campinas que na época tinha uma população aproximada de 45 mil habitantes.

Entre as atividades até hoje realizadas na sede estão a realização de mostras de espetáculos, workshops, criação de novas obras, recepção de artistas-pesquisadores, seminários de capacitação; intercâmbios culturais com a comunidade e demonstrações de processos de trabalho.

Entardecer no LUME

"...o LUME é uma identidade que se reconstrói e revigora a cada trabalho e a cada reflexão teórica e prática.”

Luís Otávio Burnier