A fruição artística é poética, política, estética e necessária para a construção da real cidadania. Nós no LUME podemos - e cremos que devemos - pensar o teatro para além da acepção comum de ser uma arte coletiva e defini-lo, de forma mais precisa, como um território de composição em ato a partir de um coletivo que comunga o mesmo tempo-espaço. E ao trabalharmos com composições poéticas, ou seja, com relações poeticamente construídas, trabalhamos muito mais com as forças que aglutinam as matérias e os corpos que com as próprias materialidades. Trabalhamos, portanto, com uma certa imaterialidade concreta de forças efetuadas a partir de corpos que se relacionam. O LUME nasce há quase 40 anos para pesquisar esse território escorregadio, sutil, delicado, movediço, efêmero da relação entre corpos. Pesquisamos maneiras de inventar relações, modos de convite às relações qualitativamente potentes. Convidamos a inventar outras formas de afetos. Ora, pensada dessa forma, o ato de convidar, inventar e compor não é terreno nem ação específica da área do teatro ou das artes, mas estende-se a própria vida, às relações cotidianas: todos os corpos inventam ou podem inventar outros modos de relação, outros modos de ser sujeito, outros modos de ser coletivo.