Alphonsus’ foi a maneira que encontrei de exprimir as recriações – experimentadas no corpo – das memórias pessoais que me conectam ao meu bisavô, o poeta simbolista mineiro, Alphonsus de Guimaraens.
Raquel Scotti Hirson
A atriz Raquel Scotti Hirson nasceu 50 anos após a morte de seu bisavô, o poeta simbolista mineiro Alphonsus de Guimaraens. Como seria possível encontrá-lo? Com o olhar na poesia, Raquel ampliou a curiosidade de saber quem foi este homem capaz de poetar em meio à monotonia de seus longos dias provincianos. Buscou na família e em sua infância os laços que a permitissem encontrar conexões entre poesia, vida e criação, deixando-se envolver por fantasias e concebendo um espetáculo que entende a memória como ficção. Assim nasceu o primeiro solo da atriz, que teve sua estreia em novembro de 2013 no Teatro do Sesc Campinas-SP. No início de 2014, o espetáculo – que conta com a direção de Ana Cristina Colla, também do LUME – foi apresentado no Vértice Brasil em Residência, encontro internacional de teatro realizado em Florianópolis-SC e em agosto se apresentou no FILO – Festival Internacional de Londrina - PR. Em 2015 o espetáculo passou pela sede do LUME Teatro, e também realizou apresentações no Itaú Cultural (Av. Paulista – São Paulo) e no Sesc Jundiaí-SP. Em julho e agosto de 2015 o espetáculo segue para o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana-MG (terra natal de Alphonsus de Guimaraens), passando também por Belo Horizonte-MG.
Para a criação do solo, Raquel revisitou a técnica da Mímesis Corpórea – que consiste na observação de ações físicas e vocais, posteriormente transformadas em matrizes corporais para a criação de figuras, personagens – e adentrou em uma questão diferencial: a “mímesis” da palavra como possibilidade de preenchimento de espaços. “A palavra em ação pode conter todas as dimensões das conexões de imagens que detona e, ainda, as dimensões do corpo, jogando com espaço e tempo”, conta Raquel. O espetáculo conta com trilha sonora original composta pelo músico Marcelo Onofri.
SOBRE ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Afonso Henriques da Costa Guimarães (Ouro Preto, 24 de julho de 1870 - Mariana, 15 de julho de 1921) era sobrinho-neto do escritor Bernardo Guimarães, pai de sua prima e primeira noiva Constança, morta aos dezessete anos, vítima de tuberculose. Colaborou para a imprensa paulistana e freqüentou a Vila Kyrial, de José de Freitas Valle, onde se reuniam os jovens simbolistas. Em 1902 publicou Kyriale, sob o pseudônimo de Alphonsus de Guimaraens, projetando-se no universo literário e obtendo reconhecimento restrito, de alguns raros críticos e amigos mais próximos. Ficou conhecido como “O Solitário de Mariana” devido ao estado de isolamento em que viveu. Considerado um dos grandes nomes do simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. A morte de sua noiva Constança marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas.
Seus versos mais famosos são os do poema “Ismália”: Quando Ismália enlouqueceu/Pôs-se na torre a sonhar.../Viu uma lua no céu/ Viu outra lua no mar/No sonho em que se perdeu/Banhou-se toda em luar.../Queria subir ao céu/Queria descer ao mar.../E, no desvario seu/Na torre pôs-se a cantar.../Estava perto do céu, Estava longe do mar.../E como um anjo pendeu/ As asas para voar.../Queria a lua do céu/Queria a lua do mar.../As asas que Deus lhe deu/ Ruflaram de par em par.../Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...
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FICHA TÉCNICA
Concepção e atuação: Raquel Scotti Hirson
Direção: Ana Cristina Colla
Trilha sonora original: Marcelo Onofri
Cenografia: Anybool Crys
Figurinos: Silvana Nascimento
Desenho de Luz: Nadja Naira
Projeções: Anybool Crys e Alessandro Poeta Soave
Trilha gravada por: Marcelo Onofri (piano), Edu Guimarães (sanfona) e Maíra Rodrigues Vicentin (voz)
Orientação da Pesquisa: Suzi Frankl Sperber
Técnicos responsáveis: Daniel Salvi, Eduardo Albergaria e Francisco Barganian
Design gráfico e fotografia: Arthur Amaral
Registro audiovisual: Alessandro Soave
Realização: LUME Teatro
Duração: 60 min.
Indicação Etária: 12 anos