Núcleo interdisciplinar de pesquisas teatrais da Unicamp

A metodologia da mímesis corpórea, não foi criada com a montagem de Wolzen. Antes, para a peça Macário de Juan Rulfo, usei caminhos similares (cf. Burnier, 1985). Tampouco se limitou a Wolzen. Mais tarde foi usada para a montagem de Taucoauaa Panhé Mondo Pé, uma criação coletiva a partir de lendas e causos brasileiros. No entanto, foi com Wolzen que aprimorei este caminho, que testei sua validade e viabilidade, que comecei mais sistematicamente a delinear um método para uma elaboração técnica a partir da imitação.

A proposta de montar a Valsa nº 6 de Nelson Rodrigues, feita por Luciene Pascolat e Valéria de Seta, me levava de volta ao teatro que tem por base a literatura dramática. A mais comum e antiga das questões para todos aqueles que praticam o teatro a partir da literatura se colocou diante de mim: como tirar do papel a beleza provocante e sedutora da literatura, e transpô-la para o palco ?.

A questão era correta e corriqueira. O interessante estava, no entanto, em qual caminho seguir para atingir este objetivo. Como fazer uma arte de ator plena e bela sem para tanto “massacrar” ou desrespeitar a literatura? Ao mesmo tempo, como trabalhar com a arte literária sem que esta massacre a arte de ator?

O problema aqui era claro e simples: estava diante de uma obra bela, complexa, de um dos mais ricos dramaturgos brasileiros. A problemática da transposição do papel para o palco era ainda maior. Como respeitar, e mais, projetar tão bela literatura, sem permitir para tanto que ela maltratasse a arte de ator. Nós atores somos aprendizes, os escritores tem escola. Diante de um Shakespeare, de um Guimarães Rosa, ou de um Nelson Rodrigues, nós atores somos como pequenos pássaros numa enorme floresta. Mas a floresta precisa dos pássaros que precisam da floresta. Não é por ser grande que ela é mais bela, não é por serem pequenos que eles são menos perigosos. Eles devem coexistir sabendo que existe o momento da floresta e o momento do pássaro, existe a hora na qual a floresta resplandece, bela em toda sua grandiosidade, e que os pássaros se calam, e a hora na qual os pássaros cantam seu canto e a floresta se silencia para escutar.

Luís Otávio Burnier