A proposta era simples: um espetáculo o mais clássico possível, ou seja, uma série de quadros em sequência sem necessariamente uma ligação entre eles. Um encontro entre três idiotas em que praticamente nada consegue acontecer. Os três clowns significavam um branco (Carolino), um contre-pitre (Cafa) e um augusto (Teotônio).
As situações que os clowns vivenciam no espetáculo não são relevantes, mas a maneira como as vivenciam e também a relação que estabelecem entre si e com o público. As situações são muito simples: uma paquera, um restaurante, um encontro, um baile... Nada consegue acontecer direito. Eles não conseguem, por exemplo, começar o espetáculo.
A montagem de Valef Ormos foi a tentativa de criar situações banais. A força deveria estar nos clowns, em suas fragilidades, ingenuidades, enfim, em sua humanidade, revelada por meio de uma técnica apurada. Buscamos a expressão sutil dessa ingenuidade que escoa através de detalhes: um olhar, um dedo, um pé... As ações dos nossos clowns são, portanto, pequenas e delicadas na maior parte do tempo, o que provoca mais sorrisos do que a gargalhada dos espectadores.
Foi essa relação dos clowns que nos interessou trabalhar. Ela era um estudo da arte de ator. Não levei em conta aspectos dramatúrgicos do espetáculo, mas centrei atenção no trabalho de ator. A primeira cena que encontramos é hoje o final de Valef Ormos um momento doce do segundo picadeiro de Teotônio. Depois foram surgindo os outros quadros que, juntos, deram Valef Ormos.
O título do espetáculo é retirado de uma situação genuinamente clownesca. Realizamos nossos retiros de clown numa fazenda chamada Vale Formoso. O caseiro da fazenda, um homem do campo (um clod), semi-analfabeto, tentou escrever numa place de madeira o nome da fazenda. Escreveu “Vale” e, tendo sobrado espaço, começou a escrever a palavra “Formoso”. Só coube o “F”, e ele teve de continuar o restante em baixo. A placa acabou antes de concluir a palavra “Formoso”, ficando o “o” final espremido no cantinho da placa, parecendo mais um ponto final." (Luís Otávio Burnier, A Arte de Ator, p.220)
Neste vídeo temos Luis Otávio Burnier (Cafa), Ricardo Puccetti (Teotônio) e Carlos Simioni (Carolino). A apresentação aconteceu no Teatro Qorpo Santo em Porto Alegre.
Obs: No meio do espetáculo acontece um black-out, mas da platéia via-se os palhaços na penumbra. Divirtam-se!